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terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

O grande sono...

O nublado deixou o dia frio, cinzento. Pouca iluminação. Não se vê o sol correr o céu como nos dias de verão. É o inverno que chega em sua calmaria quase mórbida. Os que sofrem de síndrome do pânico acham que o mundo irá acabar. Tem-se uma sensação de morte ou de que algo está pra morrer. Pré-sentimentos de agouros. “eu sempre senti isso...” uma agonia tépida e as salivas amargas. “Eu só estava indo ver a rua, na calçada, como nos fins de tarde de minha infância –, ah infância doce, agridoce. Mais doce do que acre. – eu era feliz na minha inocência sem saber do gosto escarlate. Lembro de meus sonhos e de meus amores. Vi tudo passar em vinte anos. Nada escapa do tempo. Ele é, sem dúvida, maior do que Deus. Quando Deus nasceu houve uma data, um tempo. Assim como hoje. “faltam três semanas para o meu aniversário.” Esse frio esgana até o peito. Dá pra sentir arrepios como nas noites de febre em que se está doente. Deus e o tempo deveriam nos poupar dessas coisas. Como se já não bastasse a vida ser efêmera demais, temos que, às vezes, sentir as convulsões de algumas doenças que nos mostram o quanto somos vermes. – acho que sou um verme aqui nesse chão. A luz está tão frouxa que mal dá pra vê o rosto dessas pessoas. Carol nem me ligou essa tarde. Ela liga mais à noite antes de dormir. Gosto de ouvir a voz dela como nenhuma outra. Mas hoje acho que nem vou mais falar com ela. Já estou com muito sono, e provavelmente já vou está dormindo quando ela ligar. A vida é, as vezes, apenas um romance e nada mais. As pessoas vivem por esse ofício, por esse subterfúgio que talvez é o maior sentido dela antes do ocaso. Em quase todos os sonhos existe um alguém que está do nosso lado. E já foi bom ter vivido só pra ver um pôr-do-sol e alguns beijos. – o chão está úmido. Não fiz nada de tão interessante hoje nem ontem... não realizei minhas vontades todas e as que realizei me trouxeram todas até aqui. “Minha mãe pediu para que eu fosse comprar o pão e eu quis tocar violão na calçada por mais alguns minutos, até que ouvi um barulho de uma moto...” – alguém pode ligar pra Carol? – quero dizer uma coisa pra ela... Dizer coisas é algo que se pode fazer. São assim todas as obras de artes, coisas ditas. Eu não disse quase nada e nenhuma obra deixei. Apenas alguns poeminhas que nem os amigos gostaram. É porque eles são amigos sinceros. – Que bom! Sou um verme mesmo aos pés de Álvares de Azevedo e Arthur Rimbaud que aos vinte anos já eram grandes poetas. “ninguém vai me levantar desse chão sujo, merda. Quero ir pra cama dormir.” Algo rubro entre os dentes me dá vontade de vomitar. Parece sangue... – os caras da moto passaram rápido, e outros dois vieram em seguida mas não estou me lembrando mais o que aconteceu –, acho que vou dormir aqui mesmo. “a minha mãe é quem vai ter que ir comprar o pão agora e se Carol ligar depois eu falo com ela.”

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